O inferno astral de Bolsonaro

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O governo Bolsonaro vive a sua maior crise. E não completou nem três meses. Mostra fragilidade política e enorme dificuldade de ação coordenada. Não tem programa definido. Escolhe alguns temas e tenta transforma-los em um plano de ação. Fracassa. Nada permanece mais que alguns dias concentrando a autoridade presidencial. A falta de rumo não permite o estabelecimento de prioridades. Cada pasta ministerial tenta realizar alguma atividade ao gosto do presidente mas não se sabe qual objetivo a ser atingido. O discurso (vazio) tomou conta da ação. A paralisia administrativa é patente. Não se sabe o que fazer no dia seguinte. Até parece um governo em final de mandato e amargando uma derrota eleitoral.

Ainda é hora de virar o jogo. Afinal, o quadriênio presidencial mal começou. Mas o problema é que Jair Bolsonaro acredita que está realizando um excelente governo. Vive em outra realidade. Apaixonou-se de tal forma pelo mundo virtual que não mais consegue viver fora dele. Crê piamente que está mudando o Brasil. E como abandonou o contato com a realidade – e só recebe elogios dos seus aliados – deve permanecer neste caminho. É mais confortável. Porém pode conduzir a um impasse ainda neste semestre. E um impasse que inviabilizará seu quadriênio presidencial.

O governo joga a sua sorte na aprovação da reforma da Previdência. Se não for aprovado o projeto – ao menos com a manutenção da espinha dorsal desenhada pelo ministério da Economia – o governo estará, politicamente, próximo do fim. Isto porque Paulo Guedes deixou bem claro que necessita obter uma previsão de economia dos gastos públicos de um trilhão de reais. Caso não obtenha este valor – ou algo próximo – deverá deixar o governo. E sem ele, Bolsonaro perde sua conexão com o grande capital, o que não será uma boa notícia. Não custa recordar o que ocorreu com outros presidentes.

O mercado já deu claros sinais de insatisfação. A queda da bolsa e a valorização do dólar são manifestações de que há uma preocupação sobre os rumos do governo. Há um receio de que Guedes não tenha condições de impor a sua vontade no campo econômico. Fica no ar a sensação de que Bolsonaro nunca se convenceu da necessidade da reforma da Previdência. Acabou engolindo o pacote por uma necessidade eleitoral, para obter apoio do grande capital e dar um ar de respeitabilidade à sua candidatura. Agora, na Presidência, sente-se confortável em fazer o que bem quer. Faz o gênero de indomável para esconder o desconhecimento dos principais problemas do país, especialmente aqueles da esfera econômica. Opta pelo simplismo, pela desqualificação, pelo panfletarismo barato, pelo reducionismo explicativo das redes sociais.

Jair Bolsonaro precisa assumir a Presidência da República. A campanha eleitoral terminou em outubro do ano passado. Agora a tarefa é governar um país complexo como é o Brasil. Tem de deixar o Twitter de lado. Aproveite melhor o tempo. Converse com os ministros, leia os relatórios ministeriais, estude experiências internacionais que podemos aproveitar, abandone o ócio. As tuitadas só criam problemas. Pior ainda, são escritas pelo seu filho, Carlos. É caso de falsidade ideológica. Aproveite e esqueça das “lives”. São patéticas. Tenho dó dos seus acompanhantes. O constrangimento é visível. A falta de assuntos relevantes transformou as bananas do Equador em um tema relevante. Logo vai adotar o slogan: a banana é nossa!

Aproveite e se afaste politicamente dos seus filhos. São criadores de problemas. Deixe claro que eles falam em nome próprio. Que não são uma extensão do presidente. Se não o fizer, vai colher crises a cada semana. É uma escolha. E tem de ser feita rapidamente. Neste processo de distanciamento dos garotos, pode ser incluído também o Jim Jones da Virgínia. É inadmissível homenagear o pseudo-filósofo que agride diariamente os membros do seu governo, em especial os militares. Tudo isso temperado com palavrões dignos de um marginal. O pior é que o sicofanta indicou dois ministros de pastas importantíssimas: Educação e Relações Exteriores. Já que pretende assumir o governo, demita os dois. Um, mal fala o português; o outro, sonha em servir o Departamento de Estado. São incapazes, desconhecedores das atribuições dos seus ministérios.

Para aprovar a reforma da Previdência é indispensável que Bolsonaro seja o responsável pela articulação política com o Congresso. Não é possível terceirizar esta tarefa. Tem de construir pontes e não hostilizar os parlamentares. As farpas trocadas com Rodrigo Maia somente enfraqueceram o governo. O presidente da Câmara dos Deputados é o fiador da reforma. Sem seu apoio nada será aprovado. Acerte o passo com o seu partido. O ajuntamento que leva o nome de Partido Social Liberal é uma bagunça. Priorize a pauta interna, deixe de lado as (inúteis) viagens internacionais. E lembre-se que é o presidente de todos os brasileiros.

Artigo do Professor Marco Antonio Villa

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