Coluna do Blog - Dia 25 de dezembro de 2019

Resultado de imagem para Jesus nascido"Coluna Especial - Existe Noite Feliz

Um vaso repleto de areia branca sempre foi o ponto de partida para dona Eulália montar seu pequeno presépio. O pinheirinho repleto de bolas coloridas e estrelas prateadas, além de uma ponteira em tons avermelhados. Mas a melhor parte era mesmo reunir animaizinhos e pastores ao redor daquela manjedoura, que trazia um menino sorridente, de braços abertos e adorado pelo pai e pela mãe. E ele tinha uma importante missão. Tornar todas as nossas noites mais felizes.

A tradição mantida por minha saudosa vovó “Lalita”, era o sinal mais claro e reluzente do Natal que se aproximava, a cada ano. Com mais de 80 anos de vida, a debilitada vovozinha precisou deixar a casa da roça e vir morar na cidade. Alguns poucos anos depois ela nos deixou.

Nos deixou com saudade de sua presença física. Nos deixou com saudade dos dias em que montávamos o seu pequeno presépio. Tenho saudade até dos doces de mamão verde feitos com tanto capricho para decorar a mesa de Natal. Depois daquele tempo comecei a entender que as próximas noites de Natal não seriam como as passadas com dona Eulália. Mas existia dentro de mim a certeza de que outras noites felizes seriam possíveis.

Trinta e cinco anos depois, estou aqui cheio de expectativa para mais uma Noite Feliz! Na sala de minha casa a árvore já foi montada e com todos os requintes desse novo tempo. Lâmpadas de led, bolas coloridas inquebráveis e ponteira de estrela dourada.

Só que a felicidade não é mais completa como nos tempos de outrora. E não é só por causa da ausência de minha vozinha. Mas por todas as descobertas que aquele menino foi fazendo ao longo dessa vida. Em três décadas e meia de saudade de dona Eulália, descobri que o mundo não é feito só de manjedouras em miniaturas, com José e Maria a contemplar o menino Jesus.

Descobri que hoje existem muitos meninos e meninas dormindo em locais bem piores que uma manjedoura. Algumas em barcos superlotados que migram de regiões de guerra, para realidades incertas. Trocam os barulhos das explosões e os escombros onde viviam pela insegurança dos mares que as levarão para longe da terra natal. Muitos viverão sem casa, sem comida, sem roupa, sem infância, sem escola e sem brinquedo.

Descobri que hoje existem muitos meninos e meninas sem a atenção e o carinho de pai e mãe, simplesmente porque não eram desejados e nem foram planejados. E ao nascer para ser luz no mundo, são tratados como rejeitos, lançados em lixeiras, abandonados em portas de igreja e sem nenhuma referência que os remetam a sua pequena sagrada família.

Descobri que hoje existem muitos meninos e meninas impedidos até mesmo de nascer, porque os Josés e Marias desse tempo querem continuar eternamente jovens e sem compromissos sérios que os tirem das baladas, das orgias, dos status nas redes sociais e da tal “liberdade” com sinônimo de libertinagem.

Descobri que hoje existem muitos meninos e meninas que não tem árvore de Natal, não tem escola, não tem respeito nem dignidade e muito menos família para juntar as peças de uma delicada decoração para a noite feliz.

Descobri que hoje existem muitos meninos e meninas, que também se tornaram homens e mulheres de verdade. Que entenderam o verdadeiro sentido da primeira Noite Feliz. E decidiram continuar a fazer novas e belas noites felizes como aquela cheia de luz. Pelo simples fato de acreditarem que ainda é possível fazer com que elas aconteçam na vida dos descartados e sem vez.
Dos desprezados e marginalizados. Dos que passam fome e não tem trabalho e nem teto.

Descobri que hoje existem muitos meninos e meninas, que se tornaram religiosos e passam a vida em mosteiros e conventos, rezando horas a fio por mim e por você. Para que todos os dias do ano possamos despertar e trabalhar o dia todo, na esperança de termos uma noite feliz. Daquela em que colocamos a cabeça no travesseiro sem peso na consciência e com a certeza de que fizemos nossa parte para que o mundo seja melhor e mais fraterno. Para que todos tenham a oportunidade de saborear uma ceia de natal e viver uma noite feliz, não só no dia 25 de dezembro. Mas por cada dia de vida a ser vivido.

Um Santo Natal e uma santa noite Feliz!

Escrito por Wallace Andrade, Jornalista da Canção Nova

Postar um comentário

0 Comentários