O que foi o AI-5? Entenda o decreto que endureceu o perĂ­odo militar

Tanques das Forças Armadas no comĂ­cio do presidente JoĂ£o Goulart, na Central do Brasil, no Rio - 3. mar.1964 CPDOCJB/Folhapress
Muitas pessoas ouviram durante o dia de ontem que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que poderia se usar contra a esquerda um novo AI-5, ou seja: Ato Institucional nĂºmero 5. No entanto, muita gente no Brasil nĂ£o sabe o que significa isso. 

Vamos tentar explicar:

O Ato Institucional nº 5, decreto editado em 13 de dezembro de 1968, no governo do marechal Costa e Silva, marcou o perĂ­odo mais duro da ditadura militar no Brasil (1964-1985). O AI-5 deixou um saldo de cassações, direitos polĂ­ticos suspensos, demissões e aposentadorias forçadas. 

O decreto concedeu ao presidente poderes quase ilimitados, como fechar o Congresso Nacional e demais casas legislativas por tempo indeterminado e cassar mandatos. Considerado o mais radical decreto do regime militar, tambĂ©m abriu caminho para o recrudescimento da repressĂ£o, com militantes da esquerda armada mortos e desaparecidos.

Este ato institucional foi apresentado Ă  populaĂ§Ă£o brasileira em cadeia nacional de rĂ¡dio e foi lido pelo entĂ£o ministro da justiça, LuĂ­s Antonio da Gama e Silva. Contava com doze artigos e trazia mudanças radicais para o Brasil. Por meio desse decreto, foi proibida a garantia de habeas corpus em casos de crimes polĂ­ticos. 

InstituĂ­do logo apĂ³s a CĂ¢mara dos Deputados decidir manter imunidade parlamentar de MĂ¡rcio Moreira Alves (MDB), decisĂ£o que desagradou o regime militar, que pretendia processĂ¡-lo, o AI-5 teve seus efeitos percebidos logo. O Congresso foi fechado, e presidente Juscelino Kubitschek, levado para um quartel em NiterĂ³i (RJ), onde permaneceu preso por vĂ¡rios dias. 

O governador Carlos Lacerda foi detido no dia seguinte pela PM da Guanabara (RJ). ApĂ³s uma semana em greve de fome, conseguiu ser libertado. Nos primeiros anos apĂ³s a decretaĂ§Ă£o do AI-5, foram presas ao menos 1.390 brasileiros, em diversos setores e diferentes escalões da vida pĂºblica no paĂ­s. Durante o perĂ­odo, surgiram diversas formas de resistĂªncia Ă  aĂ§Ă£o repressora do regime militar nos planos polĂ­tico, sindical e cultural. Em 30 de dezembro saiu a primeira lista de cassações, com 11 deputados federais. A segunda lista saiu em janeiro de 1969, com dois senadores e 35 deputados federais, trĂªs ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e um ministro do STM (Superior Tribunal Militar.

Ao todo, 333 políticos tiveram seus direitos políticos suspensos em 1969 (dos quais 78 deputados federais, cinco senadores, 151 deputados estaduais, 22 prefeitos e 23 vereadores). O Congresso permaneceu fechado até outubro de 1969, quando foi reaberto para eleger Medici.

TrĂªs meses apĂ³s o AI-5 entrar em vigor, foi concedida a permissĂ£o aos encarregados dos inquĂ©ritos polĂ­ticos para prender quaisquer cidadĂ£os por 60 dias, em dez dos quais os detidos deveriam permanecer incomunicĂ¡veis. Emissoras de televisĂ£o e de rĂ¡dio e redações de jornais foram ocupadas por censores. Artistas como MarĂ­lia PĂªra, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram os primeiros a conhecer as carceragens da polĂ­cia polĂ­tica. 

No plano polĂ­tico-parlamentar, vĂ¡rios deputados e senadores perderam os seu mandatos por desferir crĂ­ticas duras e corajosas ao regime recĂ©m-instalado. Grupo de oposiĂ§Ă£o mais extremistas desistiram de combater o governo por meio de palavras e resolveram organizar movimentos guerrilheiros para tirar os militares do poder. 

Como forma de protesto, o movimento operĂ¡rio tentou reagir Ă s restrições das ações sindicais e ao arrocho salarial imposto pelos militares por meio de greves em 1968, em Osasco (SP) e em Contagem (MG). No plano da cultura, foram inĂºmeras as manifestações de resistĂªncia. Em uma mistura de show musical e teatro, por meio de denĂºncias e de mĂºsicas de protesto, as manifestações buscavam sensibilizar o pĂºblico a se engajar na luta contra o regime militar. 

O AI-5 deve ser enxergado como o resultado final de um processo que foi implantado o autoritarismo no Brasil pouco a pouco entre 1964 e 1968. Foi a conclusĂ£o de um processo que visava governar o Brasil de maneira autoritĂ¡ria em longo prazo.

Informações do site do UOL 

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