Deltan: jejum e oração pela prisão de Lula no STF

Josias de Souza
Coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol classificou a próxima quarta-feira de ‘Dia D da luta contra a corrupção.” Nessa data, o Supremo Tribunal Federal julgará o pedido de Lula para não ser preso —mesmo depois que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região rejeitou o último recurso contra sua condenação a 12 anos e 1 mês de cadeia. Defensor da manutenção da prisão de condenados em segunda instância, Deltan anotou nas redes sociais que “o cenário não é bom”. Decidiu recorrer até à força divina: “Estarei em jejum, oração e torcendo pelo país.”
Sem mencionar o nome de Lula, Deltan anotou que uma derrota no Supremo produzirá a impunidade da “maior parte dos corruptos de diferentes partidos”. Noutra nota, o procurador rememorou que a corrupção produz “doenças, mortes, fome, desigualdade.” Escreveu que combater o flagelo “é uma questão de justiça social e de direitos humanos.” E reiterou que o esforço precisa passar pela redução da impunidade.
Junto com outros procuradores e o juiz Sergio Moro, Deltan vem sustentando em público a tese segundo a qual a reversão da regra sobre prisão na segunda instância será letal para a Lava Jato e outras operações anticorrupção. Por duas razões: além de esvaziar as celas, o eventual recuo do Supremo empurrará para as calendas gregas as punições, pois os condenados recorrerão em liberdade aos tribunais superioresa por prazos que podem chegar a uma década. Nesse período, muitos crimes irão prescrever.


No caso de Deltan, a evocação de Deus não é algo gratuito. Evangélico, o coordenador da Lava Jato se define no perfil que o identifica no Twitter como um “seguidor de Jesus”.
Também evangélico, Marcelo Bretas, o juiz da Lava Jato no Rio de Janeiro, ecoou o procurador de Curitiba na web, prometendo acompanhá-lo nas orações.
O problema é que as orações talvez não sejam suficientes para deter um fenômeno que ganhou proporções infernais: nos sonhos dos políticos que têm contas a ajustar com a lei, há sempre um Supremo receptivo aos embargos auriculares.
Encrencados e cúmplices conversam com certos ministros da Suprema Corte com incômoda frequência. E alguns desses ministros, sentados à direita de Deus, comportam-se como se tivessem simpatia pela ideia de anestesiar a Lava Jato e operações assemelhadas.deixado o Supremo de lado, para cuidar de outra coisa.
No caso de Lula, de resto, se o salvo-conduto que o Supremo concedeu para evitar que a prisão ocorresse antes da Semana Santa revela alguma coisa é o seguinte: Deus fez o mundo em sete dias apenas porque ainda não havia habeas corpus preventivo. Hoje, levaria uns dez anos.

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