Geopolítica da América Latina está em jogo

PIB na América O ciclo de seis eleições presidenciais num intervalo de um ano na América Latina poderá mudar a geopolítica da região. Os processos eleitorais no Chile - que terá desfecho na próxima terça-feira (19) -, Costa Rica, Paraguai, Colômbia, México e Brasil, em 2018, poderão consolidar o crescimento da onda de centro-direita ou fazer ressurgir o espectro da esquerda que, ao longo dos anos, acumulou desgastes. 

Nas últimas décadas, o bloco experimentou o auge econômico-social que coincide com o crescimento da onda progressista e populista de esquerda à frente de nações como Brasil, Equador, Venezuela, Chile, Bolívia, Uruguai e Argentina. Entretanto, nos últimos anos, o declínio começou a se evidenciar motivado pela recessão econômica, que já dava sinais de queda desde 2010 conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI), e escândalos de corrupção. 

Na Argentina, em 2015, chegava o fim o ciclo de 12 anos da presidente Cristina Kirchner. Assumia, então, o candidato da direita, Maurício Macri. No Brasil, meses depois, o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e a implementação da agenda liberal de direita do presidente Michel Temer (PMDB) fez o vento contra a esquerda ganhar força. 

A mudança de campo nesses dois países se juntava ao Peru, do presidente Pedro Pablo Kuczynski, Colômbia do presidente Juan Manuel Santos e ao Equador com o presidente Lenín Moreno que, após ser eleito com apoio do esquerdista Rafael Correa, implementou uma agenda liberal rompendo com o seu padrinho político.

No entanto, neste domingo (17), o pas­so inicial para uma nova era e futuro do bloco será dado com o segundo turno das eleições no Chile com forças de esquerda e direita.

O processo abre um ciclo de eleições presidenciais polarizado pelas duas correntes. No Chile, a tendência é que o expresidente Sebastián Piñera ganhe as eleições, o que aumenta a atuação da direita no bloco latinoamericano. Nas pesquisas de intenção de voto, Piñera - que promete diminuir o tamanho do estado - aparece à frente do candidato de esquerda Alejandro Guillier, que é visto como continuidade da atual presidente de esquerda Michele Bachelet.

Resta saber, entretanto, se a inversão de paradigma verificado no Brasil, Argentina, Peru e Equador vai se consolidar no Chile e em outros países ao ponto de criar uma hegemonia de centro direita ou se a esquerda conseguiu se oxigenar para retornar o protagonismo na região.

O quadro - que se agrava com a insatisfação com a corrupção, desconfiança com a classe política e estagnação da economia - é de imprevisibilidade. No Brasil, por exemplo, pesquisas de intenção de voto colocam o ex-presidente Lula (PT) na frente. Mas problemas judiciais poderão tirar o petista do páreo, o que faz aparecer o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), candidato de centrodireita, com fortes chances. Bolsonaro aparece em segundo lugar. 

Na avaliação do mestre de estudos Latino-americano, cientista política e professor da UnB, David Fleischer, o ciclo de governos de esquerda na América Latina - que se consolidaram pelo investimento com o social, emprego e renda - acabou com o aparecimento da onda de centro e centro-direita, que se caracteriza pela agenda liberal com privatizações. Fleischer aponta que esse movimento é uma tendência. Porém, dada as condições locais de cada país, com esquerda liderando em um momento e direita em outro, Fleischer prega a cautela. “Tem que esperar se essa tendência (direita) vai continuar”. Para o intercionalista da Unicap, Thales Castro, o ‘pêndulo está pendendo para a direita. Isto, em virtude das promessas não cumpridas da esquerda’, disse.

“No ano de 2000 como o bolivarianismo, eles não não atingiram o patamar desejado. Isso dá oportunidade para uma nova dinâmica na política”. O argumento, entretanto, é rechaçado pelo cientista político da PUC-SP, Rudá Ricci, que vê o protagonismo da direita só na Argentina e Brasil, mas com problemas de popularidade. “O governo do Macri, embora esteja melhorando, teve uma queda de popularidade e revolta da população muito grande. O Governo do Temer é a mesma coisa”, diz. Assim como Davi, Ricci considera o cenário de instabilidade.

Nesse contexto, um estudo feito pela Economist Intelligence Unit (EIU) aponta espaço para os outsiders do populismo de direita (Bolsonaro, no Brasil) e o de esquerda (Andrés Manuel López Obrador, no México). 

Economia X democracia 
Em meio ao cenário de imprevisibilidade que se evidencia nas eleições latino-americana, o continente acumulou nos últimos anos baixa na economia e perda de apoio da população à democracia, fruto dos escândalos de corrupção. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na América e Caribe saiu de quase 7% em 2010 para aproximadamente 1% em 2017. 

Em 2016, o bloco viveu o pior momento da economia com o PIB encolhendo de forma histórica indo parar na casa do -1%. Com economia em baixa e escândalos de corrupção, a insatisfação da população com o regime democrático ficou em alta. Dados da Latin American Public Opinion Project (Lapop) mostram que o apoio à democracia caiu de 67,6%, em 2004, para 57,8%, em 2017. "No entanto, em geral, podemos concluir que o público o apoio contínuo à governança democrática depende de forma crucial sobre se os sistemas políticos da região podem cumprir suas promessas".

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